Necromancy Tales - Capítulo 3
Está de noite, e chovendo.
Eu não gosto de chuva.
Minhas roupas ficam pesadas, meu corpo fica melado.
Por sorte ontem a noite eu peguei uma capa para me cobrir quando fugi de casa.
Peguei uma bolsa de moedas, roupas de viagem, e assim que montei no cavalo, corri o mais rápido que pude seguindo as direções do Necronomicon.
No portão de saída do feudo, um guarda tentou perguntar quem eu era e o que estava acontecendo, eu o ignorei e continuei a correr, quase o atropelando, se não fosse o salto que ele houvesse dado para o lado quando percebeu que eu não iria parar.
E por que eu estou seguindo as direções do Necronomicon? Bem…
É porque você não tem outra escolha, claro.
Por um lado, era ficar nos domínios de sua família e aguardar um casamento arranjado e viver uma vida cheia de arrependimentos com um nobre babão.
E por outro lado, tinha eu, um livro milenar que contendo todos os seus desejos de liberdade e segurança.
— Pena que eu preciso aprender necromancia de verdade antes de te usar, né?
Sim.
— E você poderia explicar o por que de você ter matado o meu cavalo durante o caminho?
Bem, a culpa foi sua por ter feito eu tocar o cavalo, mesmo eu te avisando para ter cuidado.
— Você sabe que foi um acidente, e como eu iria saber que só de te encostar, o sangue do cavalo seria drenado pelos olhos, narinas e boca, só para serem absorvidos por você como um pano de chão seco.
Olha, se serve de consolo, sangue de cavalo tem um gosto horrível.
— Claro, você prefere o sangue de garotinhas nobres e fofinhas feito eu né?
Ser nobre não influencia no gosto, mas sim, prepare uma dessas para a sua próxima oferenda por favor.
— Nojento.
O seu sangue que você me ofereceu para o Pacto da Corrente estava muito bom.
— Morra.
Não posso, sou um livro.
— Só não faça eu me arrepender de ter feito o pacto contigo.
Você só precisa começar a aprender magia e eu irei lhe entregar meus segredos… Se você conseguir suportar os efeitos colaterais.
— Efeitos colaterais?
Veja só! Chegamos a vila de Farnelindis!
— Essa conversa ainda não acabou!
Enquanto eu caminhava na estrada, que agora havia se tornado barro e lama devido a chuva, com o Necronomicon escondido entre minhas roupas, nós nos deparamos com um pequeno portão de paliçada fechado, em cima dele estava um guarda, protegido da chuva devido à estrutura de madeira acima dele, considerando o quanto a noite é escura, ele mal conseguia me ver, o mesmo vale para mim, se não fosse à tocha presa a uma das colunas da estrutura que o cobria da chuva.
— Alto lá! Identifique-se! - Disse o guarda, enquanto segura o cordão do sino de alerta com uma das mãos, pronto para qualquer situação de emergência.
Eu retiro o capuz da minha capa para revelar o meu rosto e mostrar que não sou nenhuma ameaça.
— Você poderia me deixar entrar? Eu só quero um lugar para passar a noite.
Quaisquer palavras além disso poderiam me comprometer.
Afinal eu sou uma nobre que fugiu de casa, assim que perceberem que eu sumi, vão começar a me procurar.
O guarda ergue uma sobrancelha em desconfiança.
“O que uma garota está fazendo fora da vila a essa hora?”
“Ela deve ser uma nobre com um rosto bem cuidado desses.”
“Ela parece desesperada, será que eu posso aproveitar a situação e exigir um favor dela em troca de deixá-la entrar?”
“Talvez eu a deixa entrar só por que ela é bonitinha, tô cansado de ver mulher feia nessa vila.”
Era o que ele provavelmente estava pensando.
Uh, eu acho que só a primeira frase estava correta, Selvia…
Você não percebeu o olhar dele Necronomicon? Ele estava pratica-
*CLANK* *RRRRRRR*
Antes que eu pudesse terminar de transmitir meus pensamentos para Necronomicon, o portão de madeira se abre, o guarda estava girando um mecanismo de onde ele estava para abrí-lo.
— Se você seguir a rua acima, deve dar de cara com a taverna do velho Steve, ele é o único que deixa a taverna aberta até essas horas pra caso apareça algum viajante perdido igual você - Disse o guarda, enquanto eu caminhava para dentro da vila.
— Ok! Obrigada! - Eu me viro para ele e agradeço, forçando a voz para parecer mais amigável, e colocando o capuz novamente, não quero ficar doente por que deixei o cabelo molhado.
Não há absolutamente ninguém nas ruas da cidade, nenhuma luz também, devido à chuva, as únicas tochas acesas são as da paliçada, eu não estou muito confiante no local em que o guarda me disse para ir também.
Mas conforme eu subia o morro da vila, seguindo as instruções do guarda, a estrada de barro havia se tornado pedra, as casas também estavam menos sujas.
Até que eu vejo uma única luz de tocha no meio desta noite chuvosa, e vinha de um local cuja porta estava aberta.
Deve ser uma isca para atrair viajantes desesperados e sequestrá-los para drenar a mana de seus corpos até virarem um maracujá seco.
Eu acho que é só a taverna que o guarda mencionou Selvia, e a única coisa que podem drenar ali é o seu dinheiro.
Parece muito suspeito.
Só… Só entra…
— Ara, temos uma visitante fofinha hoje a noite.
Assim que entrei, fui recebida por uma jovem moça, aparentemente aos 20 anos de idade.
E ela tem enormes-
— Hãã, o guarda no portão me disse para vir até aqui, eu não tenho onde ficar… - E realmente não me interessa o que Necronomicon tinha a dizer sobre ela.
A moça coloca uma mão em sua bochecha e diz, girando levemente a cabeça:
— Então você veio para o lugar certo, se não tiver dinheiro para pagar a estadia, eu posso deixar você trabalhar aqui.
Os olhos dela começam a brilhar.
— Eu aposto que você daria uma linda garçonete! Com uma roupa de empr-.
Eu coloco uma moeda de ouro no balcão ao meu lado, fazendo um som alto e imediatamente respondendo:
—Eu tenho dinheiro.
— Ara… Que pena, tenho que pegar o seu troco, uma moeda de ouro é um tanto demais por essas redondezas.
É o único tipo de moeda que tem lá em casa, senão eu teria pego algumas de prata também para evitar me exibir.
Mas aparentemente evitei uma flechada por ter dinheiro, quem sabe o que ela iria me mandar fazer se eu fosse trabalhar aqui, e aquele brilho nos olhos dela era desconfortante.
Eu acho que ela só queria te ver em uma roupa fofinha ao invés desses trapos molhados que está vestindo agora.
— Aqui está a chave do seu quarto e o seu troco, o café da manhã está incluído no valor, durma bem, amanhã terá algo quentinho para você comer quando acordar. - A moça diz, com um sorriso, enquanto me entrega a chave e 80 peças de prata.
O meu quarto é no segundo andar e o último no corredor, uma cama, um aparador com um pires metálico e uma vela, e uma janela, nada demais.
Verifico embaixo da cama e as gavetas do aparador para caso encontre algo suspeito, nunca se sabe.
E coloco o Necronomicon dentro de uma das gavetas.
Ei ei ei! O que você está fazendo?!
— Eu quero trocar de roupa, não ficaria confortável com você me olhando, mesmo sendo um livro.
Tch…
Eu coloco roupas mais confortáveis e principalmente não molhadas, tiro o Necronomicon de dentro da gaveta e o coloco em cima do criado mudo.
Você faz aquilo para impedir que eu a veja sem roupas, mas está vestindo uma camisola semi-transparente, não vejo muita diferença nisso.
Mas bem, nota 10! Continue assim!
Esse livro…
Esta noite eu faço questão de me cobrir inteira com o cobertor da cama
…
..
.
...via!
*CLANG* *CLANG* *CLANG*
...el...via!!!
*CLANG* *CLANG*
Selvia! Acorda!!!
— Hã… o que? Que bagunça toda é…
Eu acordo esfregando os olhos, ainda está frio pela manhã, e está bem quentinho dentro do cobertor, eu sei que tenho que partir logo, antes que meu pai mande um grupo de busca e me encontre…
Mas está tão frio…
Minha audição ainda está um tanto zonza…
Sel… via!!
Haa… O que o Necronomicon quer a essas horas…
*CLANG* *CLANG* *CLANG*
E que sino barulhento é esse…
— Kyaaaa!!!
— Nãooo!!!
E por que tem gente gritando lá fora?
Eu me levanto da cama, ainda embrulhada no cobertor e um tanto zonza, e abro a cortina da janela.
Enquanto eu tiro a remela dos olhos eu observo a rua lá fora, está um céu limpo bem bonito, a luz do Sol reflete no piso de pedra lapidada.
Também há várias pessoas correndo para lá e para cá sem rumo.
Ah, uma delas acabou de levar um tiro de besta na nuca enquanto corria, manchando o piso de sangue.
Olhando melhor, há várias manchas de sangue no piso também.
Espera, o que? Algo não está certo.
Um brutamontes enorme, de pelo menos três metros de altura aparece na minha vista, ele está com um machado em suas mãos, e sua pele é verde.
Não me diga que…
— Orcs estão invadindo a vila! Protejam os cidadãos!
Uma linha de soldados com lanças aparece diante do brutamontes.
Eu fecho as cortinas, e largo o cobertor no chão.
Finalmente acordou?
Imediatamente começo a me vestir em minhas roupas de viagem.
Ei, eu não estou dentro da gaveta, viu?
— Estamos de partida, Necronomicon.
Com essa confusão toda? Só se você quiser virar brinquedo de orc.
— E eu tenho outra escolha?
Ouço um estrondo vindo do andar de baixo.
É, eles entraram aqui.
Eu termino de me arrumar, acho que minha melhor chance é pular pela janela.
E quebrar uma perna? Aí é que tu realmente não vai conseguir fugir.
— E o que eu faço então?!
Use-me para invocar um demônio para te proteger.
— Eh?