top of page

Necromancy Tales - Capítulo 4

— Necronomicon… Minha mão está doendo… Waa!!!

 

— Aaaa!! Para de tremer a mão! Você está desperdiçando sangue.

 

Seguindo as instruções do Necronomicon, eu havia cortado minha mão novamente, sinto que estes cortes vão acabar se acumulando..

 

E além disso, dessa vez é necessário mais sangue, portanto, o corte é mais profundo, para sair mais sangue.

 

E dói, bastante.

 

— Quer parar de ser fresca? São só uns cortezinhos, nem parece que você perdeu o olho na última noite.

 

— O tipo de dor é diferente! Aaaah! Não dá pra pegar o sangue de outra pessoa não?

 

— Tu quer que o demônio faça o pacto com outra pessoa, é? Está quase terminando o círculo.

 

Estou desenhando um círculo de invocação usando o meu sangue no meio da sala.

E enquanto isso, orcs estão invadindo os andares de baixo da taverna, quem sabe o que está acontecendo lá.

 

A garota que me atendeu ontem a noite com certeza não tinha um físico forte o suficiente para bater nos orcs, pelo menos não naqueles que eu vi matando pessoas pela janela.

Assim que eles subirem minha vida está acabada.

 

— Necronomicon, posso perguntar algo?

 

— Se eu puder responder.

 

— Sabe, eu estive desenhando este círculo faz uns cinco minutos já…

 

— Mas agora que veio a dúvida… Por que eu estou misturando água no meu sangue para desenhar o círculo?

 

— Para economizar sangue oras, não quero tu desmaiando agora no meio de uma invasão orc, não é como se os demônios fossem perceber a diferença.

 

— O qu-?

 

E antes que eu pudesse terminar de indagar, o círculo feito de sangue diluído começa a arder em chamas, que convergem para o centro em uma esfera flutuante de fogo, que adquire asas de morcego e uma cauda.

 

E em menos de um minuto, as chamas se dissipam, revelando uma pequena esfera caolha, se mantendo no ar com um par de asas de morcego, e uma longa cauda que se divide em duas, com um olho em cada uma das pontas.

 

— Aah, um Beholder inferior? Deve bastar. - Diz o Necronomicon

 

Mas há algo errado, a criatura que acabou de surgir está um tanto borrada.

 

— Mas espere, algo não está certo.

E o Necronomicon deve ter percebido também.

 

E eu consigo ouvir passos pesados vindo na nossa direção, os orcs estão a caminho.

 

— Waaa!!! O q-que eu faço? - Eu digo, começando a me desesperar, a última coisa que eu quero é ser capturada pelos orcs.

— Eu não sei o que está acontecendo com o ritual, mas se demorar demais…

 

Sem pensar muito, corro para a janela, com a brava intenção de saltar para fugir, e olho para baixo.

 

Sim, eu vou quebrar uma perna se eu saltar daqui de cima, e aquele orc de três metros de altura que está logo abaixo provavelmente consegue correr mais rápido que eu.

E o orc olha para cima, cruzando nossos olhares.

 

Eu desisto da ideia de pular a janela e observo o demônio que aparentemente invoquei, mas que pelo visto não vai permanecer muito tempo por aqui.

 

Os passos vindos do outro lado da porta cessam, e eu me preparo para o que está por vir, há somente uma coisa que posso fazer nesta situação.

 

Eu pego o Necronomicon e o aperto contra o meu peito em um abraço.

 

A porta do meu quarto é chutada abaixo, revelando dois homens verdes enormes carregando machados.

 

— WAAAAARRRRGHH! - Eles gritam, intimidadoramente.

 

E eu faço a única coisa que posso fazer nessa situação.

 

— Kyaaaahhh!!!!!

 

Que é gritar como uma garotinha indefesa em pânico.

 

E seja por qual seja o motivo, o demônio “instável” que eu invoquei explode em uma nuvem de fumaça, preenchendo o quarto completamente.

Não é o resultado desejado, mas é melhor do que nada, corra! - Disse o Necronomicon, com a telepatia que compartilhamos.

 

Seguindo as instruções dele, eu saio correndo para a porta, torcendo que os dois orcs estejam confusos pela fumaça.

 

E na correria, eu me aproximo de algo à minha frente.

Tem um formato oval… e parece que a fumaça está se afastando do objeto, em um fenômeno que só posso compreender como se a fumaça quisesse que eu visse este objeto.

 

E é uma cabeça decepada, colocada em pé a minha frente, e ensanguentada…

 

Mas eu não tenho tempo a perder com isso e continuo correndo, deixando a cabeça para trás.

 

Que? - O Necronomicon indaga

 

Eu sou uma nobre, já vi muitas cabeças serem decepadas nas execuções.

 

— MaS e cAbeÇas FalAnTes?!

 

A voz distorcida vinda de trás me distrai e eu olho para trás.

 

— LemBre-Se! - Diz a cabeça.

 

Oh, os efeitos colaterais, certo…

 

Enquanto eu me pergunto o que o Necronomicon quis dizer com isso, eu me dou conta que estou parada no meio do quarto, mas é tarde demais.

 

O meu pulso é agarrado por um dos orcs.

 

Ele me levanta pelo braço para ficar de frente a frente com o rosto dele, o medo cresce em meu corpo e trava a minha voz, me impedindo de gritar.

 

— A-a… A… - Minha voz congela, e eu só consigo emitir breves suspiros enquanto boquiaberta.

 

O orc me observa da cabeça aos pés, mil imagens passam pela minha cabeça sobre o que poderia acontecer comigo.

 

Mas no fim, a minha jornada terminou antes de começar.

 

Até que o orc vê o Necronomicon que estou segurando com a outra mão.

Ele segura o meu outro braço, sem encostar no livro, para ver o Necronomicon mais nitidamente, devido a fumaça toda no quarto.

 

— Este não ser o coisa que a pequena falou antes? - O orc diz para o seu colega.

 

Espere, eles falam a minha língua?

 

Na verdade não, eles estão falando em órquico, mas já que você está ligada a mim pelo ritual, eu estou traduzindo para você.

 

Você é bem conveniente.

 

Eu posso sentir seu tom de sarcasmo, mas pare com os seus devaneios e preste atenção no brutamontes te segurando, ok?

 

— Solte a garota, ela parece ser igual a pequena, talvez ela conhece a pequena? - O outro orc responde

 

— Ela parecer saber magia negra também, quando entrar eu lembro de ver círculo de sangue no chão.

 

Pela conversa eles parecem ter uma garota com eles, essa tal de “pequena” que ambos mencionaram.

S-será que consigo falar com eles? Só preciso criar coragem, igual lá na vila, para me manter viva…

 

— Uhm… C-com licença? - Eu falo, com a voz bem fraca e trêmula.

 

A fumaça começa a se dissipar, revelando nitidamente os rostos dos orcs, eles são grandes e musculosos, com os caninos inferiores saindo para fora da boca, cabelos escuros, longos e trançados.

 

E ambos olham para mim, curiosos, e estranhamente, o olhar deles é… Estranhamente humano, me faz pensar nos livros que eu li sobre eles, os descrevendo como criaturas ensandecidas e estúpidas.

 

Mas ao ver o olhar deles, é possível ver que eles não são o que dizem.

 

— Ela não falar orc, mas da pra entender ela falar. - Disse o orc que estava me segurando.

 

— Tô te falando, ela saber magia negra igual a pequena.

 

Seria bom eles decidirem logo o que fazer comigo, meu braço está começando a ficar dormente.

 

E logo em seguida, o orc me levanta ainda mais alto, acima da cabeça dele… Ele ai me arremessar no chã-.

 

E ele me coloca no ombro dele, sentada.

 

— Você parece ser igual a pequena xamã, eu levar você até ela.

 

Eu não sei o que fazer nessa situação… Mas pelo menos acredito que não serei atacada pelos orcs se estiver sendo carregada por um deles…

 

Uma sábia escolha, pular do ombro dele agora para tentar fugir não iria dar muito certo.

 

Conforme o orc desce as escadas, eu me ajeito no ombro dele para não cair.

 

E assim que descemos, a moça que me recebeu na noite passada está em pé no meio da sala, com três corpos ensanguentados no chão ao redor dela, ela está descabelada, com a saia rasgada, com as mãos amarradas em uma corda enquanto sendo puxada por um orc.

 

E os olhos dela estão completamente vazios e sem vida, até ela se virar e me ver sentada no ombro de um orc, e os olhos dela se arregalam, a boca dela se abre para falar algo, mas ela se mantém em silêncio, obedientemente se deixando ser levada pelo orc.

 

E lágrimas começam a descer do rosto dela, é uma visão triste.

 

Ela provavelmente deve achar que você trouxe os orcs até aqui.

Sim, com certeza.

 

E ao sairmos da taverna, nos deparamos com um rapaz apontando uma espada curta para nós, olhando de cima do ombro do orc, ele não parece muito ameaçador, ainda mais com as pernas tremendo do jeito que estão.

 

— O-onde está Mary Anne?! - O rapaz grita.

 

Não faço a menor idéia de quem seja.

 

Talvez ele esteja se referindo a moça da taverna.

 

Eu suspiro internamente, assim como a moça da taverna, este rapaz deve achar que estou com os orcs também.

 

Se essa Mary Anne for de fato a moça da taverna, eu sinto um pouco de pena dele, este rapaz que não é um soldado ou um guerreiro criou coragem para enfrentar um orc em busca de sua amiga… Não, deve ser sua amada.

 

Mas infelizmente minha posição não é muito diferente da dele, não há nada que eu possa fazer.

 

O rapaz ficou parado diante de nós, aguardando uma resposta minha, eu realmente não quero responder.

 

Com o tempo vivendo na nobreza, eu aprendi a lidar com os camponeses a fim de fazê-los gostarem de mim para me auto-preservar… Mas esta situação não é a mesma.

 

Aos olhos dele eu sou uma garota que está trabalhando junto com os orcs para destruir sua vila, não há palavras que eu fale que possam acalmá-lo.

 

O melhor a fazer é ficar quieta e esperar o orc que está me carregando lidar com isso.

 

Até que o orc que estava puxando a moça da taverna por uma corda também sai da taverna, com a moça logo atrás dele.

 

— Mary Anne! Malditos! Aaaaahhhh!! - Grita o rapaz, enquanto corre em direção ao orc puxando a moça.

 

Então ela era a Mary Anne.

 

*Thud*

 

— Argh!

 

E o rapaz foi socado na cabeça pelo orc, o impacto o fez desmaiar no chão.

 

— Não! - Mary Anne grita, tentando se jogar no rapaz, mas ao mesmo tempo sendo levada para longe.

 

E eu nem consegui provar o sangue dela…

 

..

.

 

Conforme o orc me carrega pela vila, é possível ver outras cenas similares acontecerem ao redor de nós, os poucos soldados protegendo a vila não tiveram a menor chance contra os orcs, vários cadáveres dos guardas jazem no chão.

 

Ao meu redor é possível ver uma fileira de moças amarradas por cordas sendo puxadas e escoltadas por alguns orcs.

 

E a nossa frente, há um grupo de orcs ao redor do poço da vila, eles estão… Ugh…

 

Oh, é a primeira vez que eu vejo tal cena.

 

… Eles estão comendo membros humanos.

 

Um deles está segurando uma perna e comendo como se fosse uma coxa de frango, outro está fatiando um braço em filés redondos com sua espada.

 

E no meio deles há uma garota, ela é um pouco mais alta do que eu, mas ainda possui uma estatura humana, veste um manto roxo e vermelho, cujas mangas foram rasgadas, em sua cabeça há um capacete de chifres, em sua cintura um par de machados, mas o mais notável de sua aparência é a sua pele verde.

 

Esta deve ser a pequena a qual os orcs estavam se referindo.

 

Intrigante, até onde eu sei, não existem muitas orcs fêmeas, e pela aparência dela, ela deve ser uma meia-orc, um tanto raro, mas possível.

 

Ela é surpreendentemente fofa também, interessante.

 

Sinto que estou começando a entender como esse livro pensa.

 

A pequena orc está sentada no poço chupando um dedo, não o próprio dedo, mas sim o indicador de uma outra pessoa, ela me parece um fazendeiro mascando um mato, até que ela nos vê e se aproxima.

 

E ao se aproximar, é possível ver os olhos amarelos dela, eles brilham com a alegre expressão no rosto dela.

 

— Ei ei Trogg, você tem uma humana bastante saborosa no seu ombro aí! Me diga que você vai dividir ela com gente! A carne dela parece bastante macia. - Disse a meia-orc, babando pelo canto da boca.

 

É bem desconfortável ser chamada de saborosa…

 

Vejo que essa daí tem bom gosto de fato.

 

Necronomicon?!

 

Que? O seu sangue é bem saboroso de fato, essa orc tem bons olhos para avaliar humanos.

 

Mas não é esse tipo de avaliação que deveria estar sendo feito aqui!

 

— Hm, estranho, ela não parece assustada igual os outros humanos.

 

Geh! Acho que eu devo ter feito umas expressões estranhas devido a minha conversa interna com o Necronomicon.

 

— Esta daqui saber magia negra igual você, eu achei melhor trazer ela para você decidir o que fazer com ela. - O orc responde

 

— Hmmm… - A meia-orc me observa com curiosidade, caminhando ao redor do orc para me ver melhor.

 

— Oh! O Necronomicon!

 

Ela me conhece!?

Ela te conhece!?

 

A meia-orc está olhando para mim com uma expressão radiante em seu rosto, o dedo que ela estava mascando cai de sua boca, não sei se isso é um bom sinal.

 

— Trogg, coloca ela no chão, quero conversar com ela.

 

O orc então se agacha e calmamente me coloca no chão.

 

A meia-orc me encara por alguns segundos com um sorriso no rosto, e repentinamente coloca uma mão em meu ombro, o que faz eu me assustar e indagar um “kya!”, e enrijecer o corpo.

 

— Então foi você que despertou o Necronomicon! Você também está a caminho da academia?

 

“Despertou”? "Também"? Ela sabia do Necronomicon? E mais importante, ela está indo para o mesmo lugar que eu?

 

— Você quer dizer… A Academia Necromante? - Eu pergunto.

 

— Sim! Eu estava visitando minha tribo, e antes de voltar das férias resolvi vir com meus amigos atacar este vilarejo! Já que estava no caminho.

 

Ela está agindo estranhamente feliz, e sendo muito amigável comigo, sendo que ela só viu o Necronomicon preso na minha cintura, Algo não está certo.

 

Sabe Selvia, existem pessoas boas no mundo, não são todas as pessoas que irão fazer mal a você igual você imagina.

 

Ela estava comendo o dedo de alguém a um minuto atrás!

 

—  Hãã, com licença? - A meia-orc me chama.

 

— Oi, o que?! Hã?

 

Quando eu me dou conta, ela estava curvada, com o rosto dela próximo ao meu, muito próximo, posso até sentir o bafo de carniça vindo da boca dela.

 

— Você simplesmente parou de responder, está tudo bem? - Ela pergunta.

 

Ao perceber que retomei os meus sentidos, ela se afasta de mim e volta a falar.

 

— Então, como eu ia dizendo, já que nós duas estamos indo para a Academia, por que você não vem junto comigo? - Ela diz, abrindo um enorme sorriso, revelando os caninos longos dela, que não são tão grandes quanto dos orcs, mas ainda maiores do que o normal.

 

Hmm, não parece ser uma má idéia.

 

Como!? Ela só deve estar querendo me levar junto como lanchinho! Esqueceu que ela me chamou de saborosa antes?!

 

A estrada é perigosa Selvia, os orcs podem manter você segura, e eles não parecem querer fazer nenhum mal a você… Pelo menos por enquanto…

 

O problema é justamente este “por enquanto”!

 

— Uah!?

 

Quando me dou conta, eu estou sendo levantada pela meia-orc, ela me coloca no ombro dela.

 

— Ela congelou de novo pessoal, eu carrego ela, vamos encerrar por aqui antes que as forças do barão cheguem. - A meia-orc diz.

 

— E-espera, eu não concordei com isso! Aaaahh!!

 

E assim, eu fui amigavelmente sequestrada pelos orcs.

© 2020 Portfólio Pedro Prass - Criado por Me. Designer Adriano Monteiro via plataforma Wix.

  • Facebook Black Round
  • Instagram - Black Circle
  • Twitter Black Round
bottom of page